Práticas de management corporal e os processos de subjetivação do corpo na cultura contemporânea.

A cultura contemporânea se revela, tendencialmente, como um mundo em rede que coloca em questão e atualiza de formas inéditas os esquemas classificatórios modernos e as divisões tradicionais que organizavam as  distintas esferas sócio-econômicas e culturais da modernidade: os espaços fechados e abertos, o real e o virtual, o público e o privado, a norma externa de auto-controle, a disciplina e a flexibilidade, o campo da produção e o do consumo, o trabalho e o lazer, o masculino e o feminino, a carência e o excesso, entre outros. 

Um espaço privilegiado para desvelar estes deslocamentos e mutações reside nas  disputas para definir e legitimar específicos "corpos" e estilos de vida – que, vale dizer,  se reconfiguram cada vez mais vertiginosamente.

Neste cenário, estamos testemunhando o surgimento e a consolidação de dispositivos  que se pretendem hegemonizantes e difundem valores (sucesso, desempenho, beleza, saúde, felicidade, juventude, etc.) por meio de dispositivos comunicacionais e práticas/ formas corporais positivamente valorados nas tramas culturais e produtivas do capitalismo. E tudo isso, com a promessa de integração social (e outros benefícios) para os cidadãos que aderem a essas construções simbólicas e materiais. Por outro lado, emergem grupos que se organizam em torno da negociação e subversão dos modelos ideais de pensar, gerir e habitar o corpo e a própria vida.

A proposta deste GT  prevê a problematização de um conjunto diversificado de práticas em que as categorias de 
management (gestão) e corpo se articulam, tornando-se uma construção cultural que envolve tecnologias específicas orientadas à regulação e controle do comportamento de acordo com parâmetros específicos de otimização econômica e sedimentações subjetivas.

No entanto, o nosso interesse é também tematizar os desvios e impactos de tais construções  nos sujeitos e grupos concretos. Para isso, torna-se essencial investigar as práticas pelas quais os sujeitos negociam e gerenciam seus corpos, suas vidas e seus relacionamentos, se apropriam das tecnologias em questão e ressignificando seus usos.

Neste sentido, é necessário notar que a nossa forma de conceber a gestão excede em muito o âmbito específico do mundo do trabalho, articulando uma vasta gama práticas sociais, culturais e corporais. Ela nos permite compreender o fortalecimento de uma teleologia de regulação corporal que opera a partir da conjugação de práticas de autonomia e heteronomia subjetiva  e que identificamos como operações emblemáticas dos processos atuais de subjetivação.

Assim, a categoria management corporal dá conta de dimensões características do capitalismo contemporâneo, uma vez que possibilita criar marcos analíticos a partir dos quais possamos indagar, simultanemaente, processos específicos de regulação subjetiva e corporal, juntamente com as práticas de negociação e subversão corporal que desafiam suas redes de captura.
CONVOCAMOS estudantes de graduação e pós-graduação, professores e pesquisadores de diferentes disciplinas (antropologia, sociologia, estudos de gênero, estudos culturais, história, teatro, educação física, dança, etc) para apresentar  trabalhos que problematizem as práticas culturais nas quais o corpo seja objeto e sujeito de gestões diversas:

• Atualizações de práticas corporais de transformação: body piercing (piercing), tatuagens, depilação (remoção de pêlos do corpo), cirurgias estéticas-incluindo cirurgias étnicas- e dietas alimentares.
• A maneira pela qual determinados valores de saúde, beleza e fitness são misturados em diferentes espaços de comunicação, fixando marcas morais e privilegiando estilos de vida específicos.
•  A medicalização da sociedade e o crescimento excessivo de intervenções corporais praticadas por diversas organizações empresariais (e seus efeitos).
• As regulações do corpo no mundo do trabalho –management-  e seus efeitos sobre a vida dos trabalhadores.
• A emergente indústria do esporte e otimização / gestão dos corpos que realiza e promove.
•  As culturas terapêuticas, do fitness e do bem-estar e as práticas de cuidado / gestão corporal e de si que promovem.
• O aumento de distúrbios alimentares e da imagem corporal como resultado desses dispositivos.
• A organização de grupos que reivindicam formas/tamanhos corporais  e estilos de vida específicos  (por exemplo Fact activists, movimento Pro-Ana, etc), entre outros.

Dado que as práticas às quais aludimos dialogam com os processos de mundialização da cultura, sugerimos, em um sentido metodológico, que os trabalhos considerem os processos históricos mediante os quais se conformaram determinados  ideais e práticas corporais, suas mutações e trajetórias; e como práticas específicas resistem  à mudança ou emergem diretamente como focos de resistência em contextos sociais e culturais onde discursos globalizantes coexistem com a revitalização de políticas e retóricas nacionalistas.

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